sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Um Mundo Absurdo Pelo Qual Passeia Uma Adolescente Tipicamente Inglesa



"(...)e a Rainha, indignada, levantando-se do trono, ordenou: 'Cortem-lhe a Cabeça!' "

Uma tirana e perversa Rainha de Copas, um coelho que manipula seus soberanos, um Rei apático, uma criança que vira porco. Todos esses elementos nasceram através da mente de um tímido matemático inglês, que, após sofrer um forte abalo, pela morte materna, resolveu dedicar-se ao estudo do comportamento infantil.
Filho de um clérigo, Lewis Carroll, o criador de Alice, cujo verdadeiro nome é Charles Dodgson, nasceu em Cheshire, Inglaterra, em 1822. Realizou seus estudos em Oxford, onde permaneceu trabalhando, como professor e conferencista.          
Sentia-se bem na companhia de crianças, apreciava desenhá-las e fotografá-las. Com os adultos sofria grande entrave para se comunicar. Tal fator fez que Carroll não contasse com muitos amigos entre eles.
Passava a maior parte do tempo livre em companhia das crianças da família Liddell. Para elas, Carroll inventava longas e incríveis estórias, nas quais o fantástico e o absurdo constituem o centro da narrativa.
 Certa vez, ao sair, a passeio de barco, com as meninas Liddell, começou a narrar-lhes uma estória cuja protagonista era a mais nova das três jovens acompanhantes, Alice. Diante da reação das meninas, Carroll viu-se incentivado a publicá-la. Assim nasceu Alice No País Das Maravilhas, seguido, depois, por Alice Através Do Espelho. Nesta última, o tema central é uma partida de xadrez, cujos personagens são as peças.
O estilo em que a narrativa de Alice se apresenta,  o modo pelo qual o mundo real adentra o irreal, bem como a atmosfera onírica e de subconsciência, faz-nos chegar a conclusão de que essa obra, originalde pouco depois da metade do século XIX, seria, em realidade, precursora de um importante movimento artístico, surgido mais tarde em literatura: o Surrealismo.
De fato, se nos detivermos a analisar os capítulos de Alice, com suas situações fantásticas e suas alegorias da realidade, poderemos, facilmente, constatar que, por exemplo, a hora em que Alice mergulha na toca do coelho, seria, de modo hábil, perfeitamente ilustrada por Dali, principal expoente desse movimento  nas artes.
 Ao contrário do que muitos leitores pensam, Alice é uma obra aparentemente infantil. Além do verdadeiro choque de realidades que é a passagem da infância para a adolescência, tão genialmente simbolizado, na obra, pela toca do coelho, Carroll, ao criar as personagens de seu livro, não se embasou apenas na jovem Liddell, mas também em importantes figuras pertencentes à aristocracia britânica da época, dentre as quais a própria Rainha Vitória, a qual é apresentada como sendo de fraca personalidade, superficial em suas opiniões e julgamentos e, acima de tudo, manipulável, protegida por um exército frágil, tal como um castelo de cartas.
Assim como outros satiristas, Carroll utilizou seu país de maravilhas para, em suas entrelinhas, expressar seu pesar quanto à monarquia, bem como quanto a uma sociedade composta por nobres e aristocratas que não possuiam tempo para o povo, mas sim visavam seus próprios interesses e bem-estar.
Como considerações finais, gostaria de manifestar aqui dois pensamentos que me ocorreram, enquanto escrevia, ao amigo leitor, estas amadorísticas linhas. Se fosse escrito hoje em dia, em pleno século XXI, em que a Família Windsor mostra, após inúmeros escândalos, visíveis sinais de desgaste, assim como o Paralamento Britânico perde lentamente a famosa autonomia, a imortal obra-prima de Lewis Carroll, acertadamente, seria publicada sob o título "Alice No País Do Caos". Já o seu autor, devido a seu justificável apego às crianças, sem sombra de dúvidas, já teria sido denunciado, como pedófilo, por algum dos desocupados militantes da Vara da Infância e Adolescência, e estaria, em algum presídio inglês, cumprindo sua injusta e infundada pena.










quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O RETRATO DE OSCAR WILDE


Há, nas obras de arte, dados, quase autobiográficos, de seu autor. Como se criador e criatura comungassem numa única forma: a Arte. É através dela que o artista expressa seus sonhos, sentimentos e ideais, bem como suas mágoas e frustrações. É como se cada palavra, cada linha, cada gesto, cada espaço traçado, por suas mãos, fossem elaborados por uma pena em que contivesse as gotas de seu próprio sangue.
Em seu "O Retrato de Dorian Gray", assim como em muitos outros trabalhos, o irlandês Oscar Wilde apresenta-nos, pela descrição e ação de suas três principais personagens, um desfile sobre suas filosofias de vida e conduta moral. Evidencia-nos suas impressões acerca da arte e, também, mostra-nos, claramente, o seu descontentamnto com a sociedade da época, a qual mascarava, em seus requintados salões nobres e distintas reuniões familiares, toda sorte de hipocrisia.
Em Lorde Henry Wotton, por exemplo, Wilde defende sua  filosofia hedonista de vida, ou seja, através dessa personagem, fala-nos sobre que devemos aproveitar cada momento de nossas vidas na busca pelo prazer, não deixando, para tanto, que nada se perca. Temos sim é de viver intensamente, enquanto nos sorri a juventude.
Em Basil Howard, o pintor, temos as impressões do artista. É Wilde expressando sua arte, dizendo-nos que, na realidade, traçamos nosso auto-retrato em tudo aquilo que fazemos com a alma, com sentimento. Autor e obra fundem-se nessa personagem a fim de que saibamos que a arte é, na verdade, a vida, a alma e o sangue do artista.
Finalmente, em Dorian Gray, Wilde brinda-nos com sua paixão pela juventude, o medo da velhice e sua incessante busca pelo prazer. O senhor Gray, nessa busca, almeja transcender seus limites corporais e espirituais, todavia o autor deixa-nos claro, através dele, os riscos a que nos expomos nessa empreitada.
O que mais salta-nos aos olhos, todavia, é o fato de que, ao contar-nos a história do aristocrata que não envelhece, Oscar Wilde evoca "Fausto", obra-prima do poeta alemão Göethe, segundo a qual, o Doutor Fausto estabelece um pacto, com o demônio Mephistóphilis, em troca de longevidade e plenitude. Nessa verdadeira caça à plenitude, Fausto, assim como Dorian, envereda por obscuros caminhos. Ao completar cem anos, Fausto, após levar uma vida de perdição, arrependido por suas faltas, distribui suas terras aos pobres e, assim, alcança a Clemência Divina.
Dorian, por sua vez, não possui essa mesma sorte. Após conturbada vida, plena de crimes morais, ele, ao perceber que sua alma estava, praticamente, condenada ao padecimento, pratica uma suposta boa ação, visando, para tanto, remir, pelo menos um pouco, os seus muitos pecados, entretanto, o fato de procurar praticar o bem, a fim de apagar uma falta, resulta em mais uma marca nascente no quadro, já, há muito, carcomido por seus pecados. Podemos encontrar, no brilhante prefácio da obra, também elaborado por Wilde, uma alusão a tal passagem: "Pode-se perdoar um homem por fazer alguma coisa útil desde que ele não a admire". O prefácio de "O Retrato de Dorian Gray" é, constantemente, objeto de estudo de muitos intelectuais e acadêmicos.
Para concluir, Goethe e Wilde, ao criarem suas personagens, quiseram evidenciar a ânsia, tão humana, de sair à procura de respostas a suas infindáveis interrogações e para seus mais recônditos medos, mesmo que tal busca resulte na mais amarga descoberta para o âmago.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

ALFRED HITCHCOCK: 111 anos do Cineasta que Sabia Demais

Alfred Joseph Hitchcock nasceu em Londres, no dia 13 de agosto de 1899. Começou sua carreira como desenhista de legendas para filmes mudos. Em 1925 assinou sua primeira obra-prima como diretor: "The Pleasure Garden" . A partir de então foi responsável  por inúmeras cenas antológicas do cinema. Seu estilo inconfundível de filmar, juntando-se à originalidade de suas estórias e sua ousadia com temas tabus para a época, lhe conferiram a alcunha de Mestre do Suspense. Suas obras são contantemente reprisadas pelos canais de televisão, bem como são alvo de estudo em muitas universidades, tanto de cinema, quanto de psicologia ou sociologia. Tais fatores, ligando-se às suas costumeiras e esperadas aparições em seus filmes, sempre plenas de inteligência e bom humor, fizeram de Hitchcock um dos cineastas mais famosos e cultuados do mundo. Sua habilidade, para contar histórias, influenciou e influencia gerações de cineastas. Dentre os quais, destaco: François Truffaut (o qual escreveu um livro acerca de sua amizade e convivência com o Mestre.), Brian de Palma e, mais recentemente, o indiano M. Night Shayamallan, em cujas obras há sempre viva aquela tão hábil capacidade - e a qual o Cinema de hoje tanto carece - de manter o espectador em constante expectativa quanto à próxima cena.